A Jornada do Escritor - Resenha crítica - Christopher E. Vogler
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A Jornada do Escritor - resenha crítica

A Jornada do Escritor  Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Ficção

Este microbook é uma resenha crítica da obra: The Writer's Guide

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN:  9788576572176

Editora: Editora Aleph

Resenha crítica

O mundo comum

Vogler elaborou sua concepção da jornada do herói como referências nos conceitos de Carl G. Jung e Joseph Campbell, um modelo que associa as histórias a poucos e comuns elementos estruturais. No fundo, é uma metáfora para o que acontece na vida. A primeira etapa mostra o protagonista vivendo em um mundo comum e trivial.

É apenas o ponto de partida, já que a maior parte da história se passa em um novo e estranho mundo especial. Embora possa parecer irrelevante, a passagem no mundo comum é importante para criar um contraste nítido em relação ao ambiente habitual. O herói se sente um “peixe fora d’água”.

Por isso, manter o cenário desconhecido o mais diferente possível do mundo comum costuma ser uma boa ideia. O ambiente até pode parecer entediante, mas as sementes das aventuras que vão acontecer no mundo especial já estão presentes. Os dilemas são prenunciados nesta etapa e o mundo comum serve como um modelo simplificado do mundo especial.

Chamado à aventura

O chamado à aventura é o momento simbólico em que o objetivo do herói fica claro. Por exemplo, encontrar um tesouro, descobrir o amor, realizar um desejo de vingança, concretizar um sonho e por aí vai. Ao ser apresentado ao problema, percebe que não pode ficar para sempre no mundo comum.

É o evento que coloca a história em movimento e pode ser fruto de uma série de acidentes ou coincidências. O acaso desempenha um papel importante e ajuda a unir os personagens. A tentação costuma ser um dos elementos motivadores para a saída do mundo comum, como o cenário de uma viagem ou o amor em potencial.

A mudança pode ser comunicada por um personagem que simboliza o arquétipo do arauto. O chamado é desorientador e desconfortável. Frequentemente, o herói entra em um estado de reluta ou negação, querendo permanecer na zona de conforto. Por isso, o arauto tende a contornar todas as desculpas. O chamado também pode vir na perda ou no sequestro de alguém querido.

Recusa do chamado

Na maior parte das vezes, os heróis não são desbravadores ou extremamente corajosos. E sim, relutantes e hesitantes. Há a recusa do chamado e o medo do desconhecido. A aventura só se torna possível graças a alguma outra influência, como o incentivo do mentor. A função dramática é sinalizar que a aventura é arriscada.

A recusa pode estar ancorada em experiências passadas e as objeções geram diversão no público quando vencidas. Mas nem sempre a recusa está ligada a razões plausíveis e os heróis podem apresentar uma lista de desculpas esfarrapadas. Há raros casos de heróis que não apresentam resistência ou dão voz aos medos.

Nesse caso, outros personagens fazem essa função e manifestam o medo. Os protagonistas ainda são testados pelos guardiões do limiar, figuras que bloqueiam o caminho antes mesmo da aventura começar. Costumam ser os soldados da sombra, o principal inimigo do herói.

Encontro com o mentor

O mentor de Vogler é chamado de “velha sábia” ou “velho sábio” por Joseph Campbell, o autor original do monomito. Costuma simbolizar uma relação paternal e pedagógica, sendo um dos temas mais comuns na mitologia. Geralmente, o mentor é uma figura admirável, que simboliza o que o herói pode se tornar.

Seu papel é proteger, treinar e preparar o protagonista para o desconhecido, com o uso de conselhos, orientação ou até presentes. Ainda assim, sua participação é limitada e o herói vai precisar vencer o desafio sozinho. O relacionamento emocional entre os dois personagens tem um bom apelo com o público.

Essa é uma tradição que também está presente no folclore, com os heróis se relacionando com protetores mágicos e recebendo presentes. Muitos mentores têm familiaridade com a natureza e o mundo espiritual por sua concepção se basear na figura mitológica de Quíron, o centauro que adotou o papel de orientar Hércules . Vale desafiar os arquétipos e fugir dos clichês, já que nem sempre os mentores são homens velhos e barbudos.

Travessia do primeiro limiar

Já comprometido com a aventura, o herói precisa enfrentar as consequências de aceitar o chamado. Esse é o momento em que a aventura realmente começa. Não há mais caminho de volta. Ao se aproximar do limiar, os guardiões podem tentar bloquear o caminho. 

Essas figuras costumam aparecer na fronteira entre o mundo comum e o especial, barrando entradas, portões, pontes, desertos, muralhas, passagens e rios. A travessia ainda mostra uma mudança no tom do filme, revelada na trilha ou no contraste visual. 

O ritmo da história também muda. A aterrissagem no mundo especial nem sempre é suave e pode ser bem dura, com o personagem “despencando” na nova realidade. A experiência é exaustiva e desorientadora.

Provas, aliados e inimigos

Ao cruzar o primeiro limiar, o herói começa a conhecer novas regras. Uma das razões pelas quais há tantos saloons e bares sujos nos filmes é justamente o fato de serem bons lugares para apresentar o mundo especial. É aqui que os amigos e os vilões são conhecidos. Em alguns casos, os interesses românticos também surgem nesses ambientes.

Nos faroestes, a virilidade e a determinação do personagem são colocadas em prova. Aqui, há a sensação de “peixe fora d’água”, provocada pelo contraste com o mundo comum. As regras do lugar são estranhas e a função mais importante é o contato com provas. O mundo especial frequentemente é recheado de armadilhas criadas pela sombra.

Essa passagem é marcada por desafios e um dos principais é descobrir quem é confiável, diferenciando aliados e inimigos. Uma das relações possíveis é com comparsas, parceiros de longa data. Ainda há o rival, um concorrente no amor ou nos esportes. Sua função é apenas derrotar o herói.

Aproximação da caverna secreta

A aproximação da caverna secreta marca o contato do herói com a parte mais perigosa do mundo especial. É o quartel-general da sombra, onde a recompensa da missão está escondida. É o segundo grande limiar e exige um processo de preparação, planejamento, fortificação e reconhecimento do inimigo.

Essa também é a fase em que se desenvolve o romance, intensificando a relação entre os protagonistas antes da provação principal. As armas para derrotar a sombra são checadas e afiadas. Heróis podem se dar mal se não chegarem com confiança moderada e humildade. Nem sempre os novos guardiões do limiar se envolvem em uma luta.

Muitas vezes, são contornados pelo apelo emocional do herói. Também há uma série de contratempos e complicações dramáticas. Nessa etapa, o grupo é reorganizado e personagens podem desempenhar novas funções, sendo a última oportunidade para o alívio cômico.

A provação

Essa é a parte mais esperada da história, com o protagonista enfrentando seu maior medo. A possibilidade de morte surge mais forte aqui, trazendo ao público uma sensação de suspense e tensão. Nas histórias românticas, é a morte de um relacionamento. Ainda assim, esse estado é temporário e serve apenas para dar margem ao renascimento.

Por isso, a morte nem sempre é literal. Pode ser um término, um medo, um fracasso e por aí vai. O renascimento pode envolver o uso de presentes do mentor e os heróis voltam transformados. Esse é o evento central, sua principal crise. Um dos personagens ocupa o papel de testemunha do sacrifício, lamentando momentaneamente a morte do herói e se alegrando durante seu renascimento.

A mensagem principal é mostrar que a proximidade da morte faz com que a vida ganhe sentido. A etapa também representa o confronto contra o arquétipo da sombra, um antagonista ou o vilão da história. É a representação viva dos medos do herói e o reflexo obscuro de seus desejos, simbolizando tudo o que o protagonista rejeita.

Recompensa

Ao vencer a provação, é hora de pegar a recompensa. Às vezes, no sentido metafórico, tendo a experiência como “tesouro”. Nas histórias românticas, pode ser a reconciliação com seu amor. Aqui, acontecem as clássicas cenas em volta da fogueira e frequentemente há celebrações.

Essa é uma oportunidade de aprofundar os personagens e sua intimidade, trazendo à tona expressões de amor. A recompensa é representada na metáfora do herói empunhando a espada, simbolizada nas histórias de cavalaria da idade média. Contornar a morte e vencer a provação faz com que os personagens sejam vistos como especiais.

Os eventos também trazem benefícios pessoais, revelando poderes ou percepções novas. Em certas histórias, a compreensão de um mistério é a recompensa. Também há uma nova autopercepção e a absorção de lições. Por exemplo, reconhecer como foi tolo em algum momento da jornada.

Caminho de volta

A história não acaba após a recompensa. O herói ainda precisa enfrentar as consequências de vencer a provação, sendo perseguido pelas forças que perturbou. O mundo especial é deixado para trás e os desafios do caminho são enfrentados. A sombra não foi totalmente derrotada, podendo se reerguer e contra-atacar.

A mensagem é a de que o lado de si que a maior parte das pessoas não gosta até pode se retrair, mas ressurge antes de ser permanentemente derrotado. Um capanga da sombra pode perseguir o herói ou o vilão derrotado na provação pode não ser o principal. A saída do mundo especial pode acontecer simplesmente para preservar a própria vida.

As cenas trazem energia de volta à história. Em alguns casos, a perseguição é invertida. Isso acontece quando a sombra pega o tesouro ou sequestra um dos protagonistas. O caminho de volta pode ser permeado por contratempos, dando a impressão de que tudo está perdido.

Ressurreição

No caminho de volta, o herói passa por uma última e mais perigosa provação de morte antes de ressuscitar e desembarcar no mundo comum. Esse é o exame final, revelando se todas as lições foram aprendidas. É o clímax da história e funciona de forma similar à provação suprema. 

Assim como há mudanças de personalidade para a entrada no mundo comum, também há para a saída. Se as histórias fossem equivalentes a um período escolar, a provação suprema seria uma prova de meio do ano e a ressurreição o exame final. Aqui, os heróis dão o golpe mortal na sombra. É quando ocorre o confronto, a batalha mais importante. 

Em algumas histórias, o confronto nem sempre é físico, sendo representado por escolhas difíceis, ápices sexuais ou cenas emocionantes e decisivas. Os clímax suaves são chamados de “silenciosos” e são mais comuns em finais com a morte de pessoas queridas. A recompensa mais importante é a mudança interior.

Retorno com o elixir

O herói volta ao mundo comum com um elixir, representado por um tesouro, amor, liberdade ou conhecimento. A ideia é mostrar que a vida após a experiência no mundo especial não vai ser a mesma. Geralmente, há a sensação de fechamento de tramas e temas.

O caminho mais comum para terminar uma história é circular, finalizando os assuntos. Nesse caso, há o retorno ao ponto de partida, com repetições de diálogos e imagens. O herói pode passar por experiências anteriormente difíceis e ver como o mundo especial as deixou fáceis.

Os “finais felizes” dos filmes estadunidenses fazem a função de conectar o público com as sensações provocadas nos contos de fadas, de encontros com a perfeição. Já o final aberto, é mais presente em histórias sofisticadas e em filmes europeus e australianos, marcando questões não respondidas. A narrativa permanece viva, na mente do público e nas discussões em cafés.

Notas finais

Revelando alguns dos padrões mais eficazes do cinema, da literatura, da mitologia e do folclore, A Jornada do Escritor serve como fonte de inspiração para a criação de boas histórias. O modelo é rico e pode ser explorado das mais variadas formas.

Dica do 12min

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Quem escreveu o livro?

O autor trabalhou em Hollywood e foi consultor de alguns dos estúdios mais importantes do mundo. Apaixonado pelos padrões ocultos nos filmes, colaborou com o roteiro de Clube da... (Leia mais)

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